"MARIANA nos convida para uma interessante jornada, emprestando-nos “seu olhar” para mostrar,
através da narrativa de seus pensamentos, sentimentos e emoções, tudo que existe além das “DIS-HABILIDADES”.
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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O TREM


Na plataforma da estação
O povo se alvoroçava
Batia forte o coração
Do menino que esperava
Não tirava seu olhar
Da curva lá ao longe
De onde iria chegar
Aquele monstro gigante!
Era o trem a apitar
Pra avisar, estou chegando!
Lançava fogo e fumaça
Como que para assustar
O menino ainda criança
De bissaca ao ombro pendurada
Poucos cadernos amarrotados
No vagão em disparada
Entrava muito apressado
Seu olhar de ingenuidade
Ficava a observar
Tinha tanta curiosidade
Não ousava perguntar
No trajeto pra escola
Era uma festa pro olhar
A paisagem a desfilar
Pela pradaria afora
Depois de quase uma hora
E o lugarejo a avistar
O trem não parava de apitar
O menino já sabia; vou pular!
Na frente da estação, sobe toda a escadaria...
Pra traz fica a olhar
A fumaça da “Maria” que subia
E o trem sai devagar
Desaparece pelos campos
As criações a assustar
Vai levando tantos sonhos
Sem destino e sem lugar
O menino chega na escolinha
Vai os colegas encontrar
A escola é pobrezinha
Não tem banco pra sentar!
Depois de longa jornada
Pra casa ele volta a descansar
A espera de um novo dia
Pra aventura recomeçar.
(Pedro Quirino, 2003)




O trem como contexto multimodal:


O trem possibilita a visão do dentro e do fora em movimento, unindo sons, imagens, cheiros. É um lugar de devaneio, um ponto de transição entre um lugar e outro, entre maneiras de ser e de estar. No caso do menino, o trem era seu transporte para a escola, para um mundo de descobertas. Ao olhar a paisagem, ouvir o apito do trem, ver sua fumaça, observar os passageiros, os animais próximos à ferrovia, que ele chama de ‘criações’, já ia abrindo sua mente e seu coração para as descobertas que mais um dia na escola lhe traria. Era para ela uma festa! Mesmo sendo pobrezinha a escola, sem banco pra sentar, ela continha o que era necessário a ele – sua vida social, representada nos amigos; e todo o conhecimento que queria alcançar. O trem é, portanto, um lugar de estar para logo não estar, um lugar de trânsito, de onde se pode ver, ouvir, sentir, um pouco de cada coisa que a vida tem a oferecer, e cuja beleza depende muito de quem vê.


Renata Quirino de Sousa